Educar é revolucionar (Entrevista com Cristovam Buarque)


Cristovam Buarque - Senador propõe, com investimento de 6,4% do PIB, novo modelo de educação básica, com escolas federais em tempo integral e professores bem remunerados

O Brasil está preparado para a mudança? Do ponto de vista de dinheiro, não tenho dúvida. Já em relação a professores disponíveis, não. O recurso escasso é o jovem ativo, com disposição e vocação para ensinar. Hoje, na universidade, os jovens mais brilhantes querem fazer concurso para o Ministério Público, o Senado, ser advogados e engenheiros. A gente precisa de um bom tempo pagando altos salários para convencer os melhores a ser professores. Nestes 20 anos pagando R$ 9,5 mil, a gente começa a atraí-los.

Quem pagaria a conta? A gente fala como se o dinheiro saísse do zero. Hoje se gasta 5,6% do PIB em educação. O Plano Nacional de Educação obriga a colocar 10%. Ao federalizar, se chegaria a 6,4%, em 20 anos. Só com o Governo Federal entrando. Os Estados e municípios não têm como fazer a revolução. Tem gente que acha que o prefeito não dá aumento porque é ruim, porque não gosta de educação. Pode até ter alguns assim, mas hoje nenhum tem condições de dar um salário ao professor muito melhor do que ele dá hoje.

Como atuariam as prefeituras? Poderiam trabalhar como parceiros, construir os prédios. Como será ao longo de 20 anos, você pode escolher qual cidade pode fazer. O prefeito precisa querer. Minha proposta é voluntária.

Como atrair o professor com o perfil? Precisa criar uma nova carreira no magistério, pagando bem, dando formação nos cursos de pedagogia e criando outros institutos fora da universidades. Tem que acabar com o conceito que excelência se encontra somente na universidade. O Instituto Tecnológico da Aeronáutica é um exemplo. Depois de ser escolhido, o professor tem que ficar um ano dando aula sem que o contrato seja assinado. Como é feito com os diplomatas no Instituto Rio Branco: ficam dois anos ganhando para estudar e depois, se forem aprovados, é que serão contratados. Depois de entrarem e é um ponto difícil de passar politicamente, porque sem isso não resolve -- é preciso acabar com a estabilidade plena. Hoje, o professor entra no primeiro dia de aula e já está estável, a não ser que cometa pedofilia. Não é demitido por incompetência ou relaxamento. Eu proponho estabilidade responsável. Ele precisará passar, uma vez por ano, por uma avaliação. Se demonstrar falta de sintonia com resultados, será exonerado.

Qual a escola que se espera? Hoje o professor do giz e do quadro negro não vai dar boas aulas. O aluno requer equipamentos modernos. O edifício precisa ser bonito e confortável. Não haverá revolução plena na educação se a gente continuar deixando nossos meninos em um lugar com 38 e 40 graus, sem ar condicionado. Nós estamos tão acostumados a desprestigiar a educação que as pessoas riem quando se fala em ar condicionado em escola. Ninguém ri de ar condicionado no aeroporto, no supermercado, nos shoppings.

A nova escola teria um novo currículo? A saída é o horário integral. Não tem escola boa em 4 horas. A parcela rica da população já descobriu isso há 40 anos. Estuda num período, mas depois faz inglês, ginástica, natação. Isso deveria ser dentro da escola. Essa revolução não encontraria resistências? Já há diversas escolas como essa espalhadas pelo Brasil. São escolas-modelos, como Pedro II e Colégio Militar. O desafio é transformar essas poucas em muitas. O problema foi que só fizemos 400 dessas. As prefeituras só conseguem fazer uma boa dessas para seguir como exemplo. Então só deve ter umas mil escolas boas no Brasil.

A lei eleitoral diz que o plebiscito deve ser aprovado 70 dias antes das eleições para ocorrer simultaneamente. Vai dar tempo? Eu propus plebiscito para ver se obriga o governo, mas, se ele quiser, pode fazer sem consulta. Ainda tenho esperança que um presidente faça isso, independentemente de plebiscito.

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