O Mundo está a mudar. Todos sentimos que alguma coisa não está bem, e os jornais espelham os diversos conflitos e dúvidas que existem nesta época tão pródiga em imagens fortes e mensagens subliminares.
Durante muitos anos os países do Médio Oriente viveram na sua maioria dos rendimentos do petróleo, houve mesmo períodos em que puseram a Europa de joelhos com as várias crises dos combustíveis, e conviviam pacificamente entre eles. De repente, mercê da situação criada pelos conflitos da Bósnia/Herzegovina, Chechénia, Iraque/Irão e Afeganistão, com a introdução de corpos estranhos como a NATO e o exército dos USA e seus aliados, vemos ressurgirem os fantasmas de guerras fratricidas entre as várias facções Muçulmanas, basicamente entre as grandes vertentes Sunitas x Xiitas, que arrasta toda uma área geográfica para guerras impensáveis há 20 anos.
É como se de repente cristãos, anglicanos, gregos ortodoxos, luteranos e protestantes em geral se declarassem guerra mutuamente, numa carnificina que muito lembra a Idade Média.
Uma facção extremista de muçulmanos sunitas dá-se ao luxo de nos mostrar ao vivo cenas de degola, decapitações, gente queimada viva. E o mundo fica pasmo, aperta medidas de segurança, e se mostra absolutamente incapaz de simplesmente derrotar estes animais em forma de gente.
Devido a estes conflitos generalizados na Síria e Líbia, uma multidão inicia uma migração sem precedentes, arriscando a vida na procura de um país que os possa acolher. O simples número de pessoas envolvidas e suas origens (sírios, líbios, afegãos, eritreus, somalis) mostra que estas migrações não são só de raiz humanitária (fuga da guerra), mas também de simples procura de maior bem estar econômico e social. A Europa parece ser um ímã, sobretudo a Europa do Norte, embora a entrada destas hordas se faça pelo Sul, sobretudo através da Grécia e Itália, mais perto das costas da Líbia e Síria, criando problemas de atendimento, alimentação, triagem, documentação e transporte, pois alguns países já declararam que não querem ceder o direito de passagem.
A Rússia cria o caos nos países bálticos, com a anexação pura e simples da Crimeia e apoio aos separatistas ucranianos.
A Turquia encontra-se dividida com a questão religiosa (Estado Laico ou religioso) e a questão curda, em que grupos curdos são verdadeiros heróis por combaterem o EI (PKA ou pashmeres) , e outros são considerados terroristas dentro de seu território (PKK).
Israel continua a ter problemas tanto com o Hamas como com o Hezbollah, sem se resolver a questão Palestina. É bem verdade que os palestinianos também não conseguem uma unidade nacional, e aqui de novo vemos a divisão entre Xiitas e sunitas, e a geopolítica dos países que apoiam ora um ora outro dos movimentos, como o Irão, a Síria e a própria Arábia Saudita.
Velhos adversários tornam-se agora amigos, como comprova a aproximação entre Israel e a Turquia, até agora sua adversária.
Claro que por oposição ao Irão, que procura ser uma das forças na região.
As grandes perguntas que devemos fazer são:
a) A quem aproveita este estado de coisas? Ao termos a resposta descobriremos quem está realmente por trás do EI. Israel, USA e alguns países do Golfo já têm sido apontados como culpados. Teriam criado uma solução de "cortina de fumo" na Síria, que escapou ao controle dos seus criadores.
b) Como esta situação vai mudar a Europa? Certamente a assimilação de tantos "não cristãos" vai afetar diretamente a forma de vida na Europa como a conhecemos. Alimentação, propaganda, embalagem de produtos, escolas, tudo isto já está a ser afetado, e alguns países começam a reagir, embora outros tentem ainda contemporizar, alterando suas legislações para acomodar os muçulmanos. Assim, pouco a pouco a Europa irá perdendo a sua identidade e criando um verdadeiro regime de submissão a uma religião que não era tradicionalmente a sua. As várias fragilidades da Europa tornam-se muito aparentes, e o resultado certamente será uma nova sociedade ou a implosão da própria UE, com o recrudescimento das várias vertentes nacionalistas.
c) Existe um plano para derrubar a Europa, rompendo com a sua unidade, identidade cultural ou econômica para beneficiar outros blocos como os USA e China? Já existem defensores desta tese, como existem aqueles que defendem que a Rússia deveria ser integrada na União Europeia para que a própria UE sobreviva.
Paralelamente a estas questões "externas", a Europa ainda está á procura de criar uma identidade única, uma unidade bancária, da diminuição das assimetrias regionais econômicas, da aceitação plena pelos Estados membros da limitação das respectivas soberanias , enfim, de ser realmente um bloco homogêneo em termos econômicos, militar, e de representação nos Foros Internacionais, sobretudo da ONU, onde hoje é minoria e só sobrevive mercê do poder de veto das potências vencedoras na II GGM, que hoje já não representam o sentir da maioria dos povos no mundo. O resultado prático desta situação é que cada vez menos a ONU terá "vez e voz" e não consegue evitar os conflitos armados.
Não se trata mais da tradicional disputa entre "direitas" e "esquerdas". Trata-se de desenhar um novo modelo, mais baseado na realidade do que em teorias macro econômicas, de reavaliar a possibilidade de ter Estados Sociais mais ou menos avançados, mas sem as máscaras que os levam a atuar como se todos fossem países "ricos", de voltarem certos princípios como respeito pelo cidadão e pelo trabalho, valorizando menos o capital, que deve ser uma ferramenta mas não um fim em si mesmo, enfim, a revisão de um modelo neoliberal que não tem funcionado a contento. Em algum momento será necessário fundir vários modelos de pensamento para mudar o mundo.
Teríamos certamente um mundo diferente mas melhor. Teríamos um mundo mais justo, mais humano, mais criativo e menos mercantilista. Temos que voltar no tempo e conseguir que o SER seja mais importante que o TER. E uma opinião pública que se faça ouvir, que provoque mudanças "por dentro ", que retome valores tradicionais e, sobretudo, que saiba o que quer e não espere simplesmente que o Estado seja o "provedor" de todas as suas necessidades. Terá que ser um mundo mais livre , mas também mais responsável.
Fonte: http://www.sabado.pt/
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