Jovens alienados alimentam a escalada da violência no Brasil


A imagem frágil, infantil e assustada do jovem tatuador Fábio Raposo no instante em que chegava preso à delegacia de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, é um retrato fiel das manifestações encampadas no Brasil há alguns meses e que sempre terminam com desordem, quebra-quebra e muitos prejuízos públicos e privados.

Raposo chegou à delegacia de camisa branca com estampas discretas, bermuda abaixo do joelho e uma pasta de couro usada na transversal do corpo, à moda dos carteiros. Focalizado pelas câmeras de TV e por máquinas fotográficas da imprensa nervosa, que àquela altura já imaginava o desfecho trágico do cinegrafista Santiago Andrade (atingido por um morteiro repassado a um manifestante pelo tatuador), ele desceu do carro da polícia e se limitou a esfregar a mão pela barba rala, com olhar envergonhado, caminhando de forma desengonçada até sumir na porta do DP, de onde saiu para dar entrada em uma casa de detenção fluminense.

Estava bem atento na hora em que essa cena se desenrolou. Jornalistas quando não estão apanhando de manifestantes em alguma rua do país, fazem alguns plantões de final de semana dentro das redações. Naquele momento eu estava no jornal em que trabalho, acompanhando tudo pela televisão. Não pude deixar de lamentar as duas vidas que se perdiam. Uma, do colega cinegrafista, que dificilmente conseguiria sair com vida do trauma. A outra, daquele jovem, comparsa de um crime que se desenrolou por pura inconsequência.

Fábio Raposo foi viver sua rebeldia adolescente onde não deveriam nunca ter colocado os pés desajeitados: ao lado de outros jovens tão alienados quanto ele, massa de manobra de uma esquerda radical que prega a violência pura e simplesmente para se promover e, no fim das contas, bater de frente com a mãe das Genis brasileiras, a famigerada Polícia Militar.

Raposo e seus comparsas baderneiros integram um grupo que se diz moderno por defender um novo modelo de comunicação, na verdade uma causa retrógrada, que condena a imprensa profissional, o jornalismo de qualidade feito por gente estudada e entendida da coisa, sem o qual o modelo democrático não seria possível.

Mas esse tipo de debate democrático, o papel da imprensa ao defender a liberdade de expressão, cláusula pétrea da constituição federal brasileira, parece não interessar essa turma que se gaba de não empunhar nenhuma bandeira política e ideológica, simplesmente para defender o fato de não possuir alcance e bagagem intelectual para tanto.

Aquele rojão ou seja lá o nome que se dá ao artefato que matou o colega Santiago tinha endereço certo: os anos de descaso do governo na área da educação. Uma rotina de incompetência que gerou essa geração completa de ignorantes. Mas soma-se aos destinatários do artefato criminoso os meses de incapacidade de Dilma Rousseff em responder com medidas eficientes o descontentamento do brasileiro, e a preguiça dos legisladores que até agora não tipificaram como um crime específico os excessos causados por Black Blocs ao patrimônio público e privado.

O rojão, no entanto, acabou acertando o jornalismo brasileiro, somando-se aos 126 atos de agressão à imprensa registrados desde o início da onda de manifestações populares em todo o país, em junho do ano passado, segundo balanço apresentado na última terça-feira, 11, por representantes das empresas de comunicação brasileiras ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Isso é crime. Favor não confundir com os milhares de indignados que vão para as ruas, são acuados por policiais militares despreparados e partem pra cima das tropas em ato de puro desespero. Favor não confundir com os trabalhadores que voltam para casa de metrô depois de um dia de labuta, espremidos como sardinhas em lata, e ao se depararem com um transporte que não sai do lugar, acionam o botão de pânico para fugirem dali pelos trilhos.

Essas são todas ações legítimas, apesar do governador Geraldo Alckmin denominá-las como casos de vandalismo. Mas, não, quebrar vitrinas de lojas, agências bancárias, pontos de ônibus e atentar contra a vida de outros cidadãos, essas não são atitudes indignadas, são incidências criminais. E precisam ser urgentemente tratadas como tal. Antes, contudo, é preciso coragem e inteligência por parte das autoridades. É ver para crer.

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