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Dalai Lama, Tibet e a China: verdades, liberdades e limites


Para muitos de nΓ³s, o Tibet Γ© uma regiΓ£o longΓ­nqua misteriosa e Γ s vezes fascinante.  Terra de monges e religiΓ£o oriental profunda.  Terra do Dalai Lama que Γ© uma das maiores personalidades religiosas do mundo inteiro.  Terra de montanhas altas, temperaturas baixas, cΓ£es que nΓ£o ladram por acompanhar os monges e cenΓ‘rio de uma das mais famosas novelas do grande romancista inglΓͺs Somerset Maugham: O Fio da Navalha.

Recentemente o Tibet passou a ocupar o centro do noticiΓ‘rio que a nΓ³s chega diuturnamente.  Foi entΓ£o que nos demos conta de que o mesmo localiza-se no centro da Ásia e faz fronteira com a Índia, Nepal, ButΓ£o, Burma e China. A lΓ­ngua aΓ­ falada Γ© o tibetano e a religiΓ£o oficial o budismo tibetano, que tem no Dalai Lama seu chefe, que atualmente se encontra em exΓ­lio na Índia.

A histΓ³ria do Tibet Γ© marcada por guerras e conquistas. Os conflitos entre a China e o Tibet tiveram inΓ­cio durante a dinastia chinesa Tang (618-906 d.C.). A partir do sΓ©culo XIII o Tibet conheceu uma sucessΓ£o de dominaΓ§Γ΅es: mongol, chinesa, inglesa.

A partir de 1950, quando o Partido Comunista chinΓͺs tomou conta da China, tropas comunistas invadiram o paΓ­s e em pouco tempo tomaram a sede do governo local.  No mesmo ano, em novembro, o governo tibetano manifestou-se contra a agressΓ£o chinesa na OrganizaΓ§Γ£o das NaΓ§Γ΅es Unidas (ONU). Mas a AssemblΓ©ia Geral da ONU adiou a discussΓ£o do problema. Foi quando o 14ΒΊ Dalai Lama assumiu a posiΓ§Γ£o de Chefe de Estado do Tibet. O novo lΓ­der dos tibetanos tinha apenas 16 anos de idade quando assumiu a lideranΓ§a polΓ­tica e espiritual de seu paΓ­s.

Em setembro de 1951, o Tibet foi tomado pelas forΓ§as comunistas de Mao Tse Tung. A ocupaΓ§Γ£o chinesa do Tibet foi marcada pela destruiΓ§Γ£o sistemΓ‘tica de mosteiros, pela opressΓ£o religiosa, pelo fim da liberdade polΓ­tica e pela prisΓ£o e assassinato de civis em massa. Ao governar o Tibet, as autoridades chinesas comunistas introduziram reformas agrΓ‘rias e reduziram significativamente o poder dos mosteiros – fundamentais na organizaΓ§Γ£o religiosa tibetana, - apesar da forte oposiΓ§Γ£o do povo local.

No dia 10 de marΓ§o de 1959, os tibetanos organizaram um levante nacional contra a China em sua capital Lhasa.  A reaΓ§Γ£o chinesa foi violenta: milhares de tibetanos foram mortos, aprisionados ou exilados.  Temendo por sua prΓ³pria seguranΓ§a, o Dalai Lama deixou Lhasa em 17 de marΓ§o de 1959. Atualmente, a sede do Dalai Lama se localiza na Índia. O Dalai Lama ele viaja pelo mundo para tentar obter apoio internacional Γ  independΓͺncia de seu paΓ­s.

HΓ‘ 50 anos, portanto, a china ocupa o Tibet.   E atΓ© hoje, as NaΓ§Γ΅es Unidas nunca expressaram algum protesto significativo contra a ocupaΓ§Γ£o do Tibet. Desde 1951, os tibetanos tΓͺm tentado se rebelar contra a ocupaΓ§Γ£o chinesa, mas seus esforΓ§os nΓ£o foram bem sucedidos. A China alega soberania histΓ³rica sobre o Tibet, ameaΓ§ando assim a cultura e religiΓ£o dos tibetanos. NΓ£o deve ser estranho a essa posiΓ§Γ£o o fato da China ser hoje o grande alvo econΓ΄mico do mundo ocidental. A China Γ© hoje o paΓ­s mais populoso do mundo e representa uma das economias de maior potencial. A China Γ© tambΓ©m um dos cinco paΓ­ses de maior poder nas NaΓ§Γ΅es Unidas e tem o direito de vetar qualquer decisΓ£o da organizaΓ§Γ£o.

A China tem o objetivo de modernizar o Tibet, pois espera que uma maior prosperidade no paΓ­s eventualmente conquiste o apoio dos tibetanos Γ  administraΓ§Γ£o chinesa.  Assim fazendo, a China espera aumentar seu poder de fogo junto Γ  economia mundial.  O governo chinΓͺs possui um plano de desenvolvimento para a regiΓ£o e vem construindo prΓ©dios, realizando obras e substituindo a tradicional arquitetura tibetana por uma arquitetura moderna, deixando assim as provΓ­ncias do Tibet cada vez mais semelhantes Γ s cidades chinesas. AlΓ©m disso, o Tibet estΓ‘ repleto de migrantes chineses que lideram importantes setores da economia. De fato, hoje hΓ‘ mais chineses que tibetanos vivendo no Tibet. NΓ£o Γ© de se surpreender que os tibetanos temam que sua cultura e tradiΓ§Γ΅es estejam em perigo de extinΓ§Γ£o.  

Uma das conseqΓΌΓͺncias dessa ocupaΓ§Γ£o chinesa Γ© a existΓͺncia de mais de cem mil refugiados tibetanos pelo mundo. Oficiais chineses no Tibet afirmam que os tibetanos tΓͺm completa liberdade religiosa. PorΓ©m, a polΓ­cia chinesa estΓ‘ sempre presente em mosteiros e em templos budistas. Os monges tΓͺm sido espancados, aprisionados e obrigados a submeter-se Γ  polΓ­tica do paΓ­s invasor.

Uma certa flexibilizaΓ§Γ£o no rigor da ocupaΓ§Γ£o vem sendo demonstrada pela china recentemente.  No inΓ­cio de 2002 houve a libertaΓ§Γ£o de seis prisioneiros polΓ­ticos tibetanos.  Permitiu-se que o irmΓ£o do Dalai Lama visitasse o Tibet e abriu-se o paΓ­s para o acesso livre da imprensa internacional, antes restrito.

Em outubro de 2002, representantes do Dalai Lama foram recepcionados pelo governo chinΓͺs em Pequim e no Tibet – algo que nΓ£o ocorria hΓ‘ quase uma dΓ©cada. A China tem o objetivo de apaziguar os tibetanos para melhorar sua imagem perante o mundo. Mas Γ© duvidoso que a China esteja disposta a se retirar do Tibet. As NaΓ§Γ΅es Unidas e os principais lΓ­deres mundiais nΓ£o tΓͺm o poder e o interesse de pressionar a China para que haja uma resoluΓ§Γ£o justa do conflito. Portanto, apesar de contar com o apoio moral de pessoas no mundo inteiro, os tibetanos enfrentam uma grande luta para realizar seu sonho de soberania e independΓͺncia nacional.

Com a aproximaΓ§Γ£o dos Jogos OlΓ­mpicos o conflito entre os dois paΓ­ses se acirra.  Tem havido manifestaΓ§Γ΅es violentas no Tibet, do qual tΓͺm sido protagonistas os prΓ³prios monges.  A nΓ£o violΓͺncia, que Γ© uma das chaves de autocompreensΓ£o do budismo tibetano encontra-se assim ameaΓ§ada em sua credibilidade.  O Dalai Lama declarou que, se os tibetanos escolherem o caminho da violΓͺncia, ele renunciaria. Segundo Pema Gyalpo, que foi seu representante oficial no JapΓ£o, opina ser isso uma estratΓ©gia para que nΓ£o haja mais violΓͺncia, vitimando mais tibetanos.

Esperemos que o Dalai Lama, figura sΓ­mbolo da nΓ£o violΓͺncia pacΓ­fica resista Γ s pressΓ΅es que enfrenta de um lado e de outro: seja por ver seus compatriotas vitimados pela violΓͺncia, seja por perceber a frustraΓ§Γ£o das novas geraΓ§Γ΅es que nΓ£o suportam mais a opressΓ£o de que sΓ£o vΓ­timas com sua postura nΓ£o violenta.  Confiamos em que a imensa estatura espiritual do Dalai Lama o inspirarΓ‘ em sua postura neste incerto e doloroso conflito que ameaΓ§a o futuro do Tibet. SerΓ‘, a nosso ver, a ΓΊnica forma de ajudar o mundo a compreender, neste incerto sΓ©culo XXI, que a tolerΓ’ncia e a nΓ£o violΓͺncia sΓ£o sempre o melhor caminho, pelo menos a mΓ©dio e longo prazo, para que a humanidade sobreviva e caminhe para a frente sem ser irremissivelmente erodida e destruΓ­da.

* Maria Clara Lucchetti Bingemer, teΓ³loga, professora e decana do Centro de Teologia e CiΓͺncias Humanas da PUC-Rio, e Diretora Geral de ConteΓΊdo do Amai-vos. Γ‰ tambΓ©m autora de "A Argila e o espΓ­rito - ensaios sobre Γ©tica, mΓ­stica e poΓ©tica" (Ed. Garamond), entre outros livros.

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LΓΊcio Soares

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