“Ensaiei meu samba o ano inteiro / Comprei surdo e tamborim / Gastei tudo em fantasia / Era só o que eu queria / E ela jurou desfilar pra mim” (Benito di Paula)
A mídia hegemônica está inconformada. A Asmáticos foi rebaixada (veja nota abaixo). Afinal, era para este ter sido o “carnaval da (operação) Lava Jato” e do caos. Ancelmo Gois, colunista amestrado de O Globo, chegou a escrever, “preocupado”, sobre a possibilidade inclusive de faltar cerveja! Em sua coluna de 6/2 ele dizia existir “uma grande apreensão entre os fabricantes de bebidas por causa desta crise hídrica. No eixo Rio-São Paulo, existem umas 15 fábricas desses produtos (cerveja e chopp). Todas captam água do Paraíba do Sul e do Guandu”. Mas o que se viu foi uma festa onde não faltou cerveja nem alegria e mobilizou milhões por todo o país. Mesmo cidades sem tanta tradição de carnaval de rua como SP e Brasília assistem ao fenômeno do surgimento de centenas e centenas de blocos em uma folia democrática e (em 99% dos casos) ordeira. Ao contrário do que desejava a mídia hegemônica não foram vistas máscaras com os rostos dos investigados na operação “Lava a Jato” ou pedidos de impeachment, mas vimos sim espontâneos e bem humorados repúdios ao golpismo (“impitman é meu zovo”, vale a pena assistir o vídeo) e se máscaras apareceram foram as do colunista amestrado das organizações Globo, Merval Pereira. Resultado: o antropólogo está melancólico.
Asmáticos rebaixada
O samba fere que nem punhal
É por isso que o antropólogo desabafa em sua coluna, depois de registrar que estava em companhia de um brasilianista “na pérgola do Copacabana Palace”: “O carnaval tornou-se banal, medíocre, trivial e diário”. Tanto adjetivo junto me faz lembrar até a letra de um samba canção: “estou mais triste nesta triste noite fria / sem esperança que ela volte para mim / minha saudade transformou-se em agonia / estou mais triste neste triste botequim”. Substitua-se por favor o “botequim”, por “pérgola do Copacabana Palace” e a analogia está pronta. Aos foliões da Asmáticos dedico o trecho de um samba de Aldir Blanc e João Bosco que talvez explique um pouco por que vocês não conseguiram instrumentalizar o carnaval: “Óia que foi só pegar no cavaquinho / pra nego bater / mas se eu contar o que é que pode um cavaquinho / os ‘home’ não vai crer / quando ele fere, fere firme e dói que nem punhal / quando ele invoca até parece um pega na geral”. Para o Damatta: o “pega na geral” desta letra refere-se a um lugar no antigo estádio do Maracanã, antes de se transformar em Arena, onde por qualquer trocado o povo podia assistir os jogos e, de vez em quando, acontecia uma confusão. Um “pega”, na maior parte das vezes sem mesmo existir briga de verdade. Como? Não, não se parecia com a pérgola do Copacabana Palace.
Doria Jr. o empresário que não sabe contar
Dória Jr., articulista do jornal O Estado de S. Paulo, segue sempre a toada dos colunistas amestrados: ataques constantes ao governo Dilma. Desta vez o assunto é o PAC. O “empresário e jornalista” deveria saber que projetos de caráter estruturante, ainda mais em países onde o estado durante anos abriu mão do seu papel de indutor do desenvolvimento nacional, costumam durar décadas para serem efetivados. Dória, entretanto, diz que o PAC é “só um dos mais expressivos símbolos do engodo que marca a administração pública do país”. Porém, na própria coluna ele divulga dados, baseados na ONG contas abertas, cujos números, feitas as contas, apontam o seguinte: 54,4% das obras do PAC ou estão em execução ou estão concluídas. Em apenas oito anos o governo federal concluiu mais de 7.700 empreendimentos (média de quase mil por ano), outros 18.800 estão em andamento e – sempre segundo a coluna – em fase de projeto encontram-se outras 22.200 obras. Mas o Dória, dinâmico presidente do “Lide – Grupo de Líderes Empresariais”, acha pouco e ainda termina sua coluna com a conclusão de que “o PAC nasceu empacado”. Notem a graça do trocadilho, PAC/empacado, perceberam? Por estas e outras é que o Asmáticos desceu.
Os Bolsonaros e a maconha
Imperdível o artigo de Flávio Bolsonaro sobre os malefícios da maconha publicado em O Globo desta quarta-feira (18). O texto saiu na seção “Outra opinião” e se contrapõe ao artigo do jornal que defende “que o país passe a tratar a questão das drogas por outro viés, que não o usual, pelos seus aspectos criminais”. Quem diria? Foi só o FHC, em pleno ocaso, passar a defender a legalização da marofa (apelido carinhoso da maconha em certos círculos com os quais o redator do Notas Vermelhas não tem nenhum contato) que O Globo veio atrás. Voltando ao Flávio Bolsonaro, em determinado momento do artigo ele elenca os “efeitos sequelantes” da droga, entre eles: lentidão de raciocínio, ansiedade, esquizofrenia, bipolaridade... Temos apenas uma pergunta: Flávio, você já viu seu papai discursando?
Fonte: http://www.vermelho.org.br/
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