Agrofloresta, nascentes protegidas e orgânicos na merenda: conheça mais um produtor da AAO!


Com raízes familiares no município de Nazaré Paulista (SP) e testemunha das mudanças por que passou a região do Cinturão Verde de São Paulo, o produtor rural Gregório Martins vem acumulando saberes sobre o desenvolvimento da agricultura orgânica em áreas preservadas. Nas paisagens ainda cobertas por Mata Atlântica, ele testa e aprofunda o conhecimento de técnicas que permitem cultivar alimentos enquanto se recupera e mantém o meio ambiente em equilíbrio.

Das terras de sua família já saíram produtos como o melaço, o açúcar e a cachaça artesanal fabricada pelos avós, os quais eram transportados à cavalo ou burro pelos caminhos da Serra do Mar. “Vimos a represa de Nazaré inundar o vale e a estrada cortar parte de nosso terreno. Aos poucos, começaram a chegar os loteamentos e as casas de veraneio. Mas nunca paramos com a agricultura, a cana, o café e agora a agrofloresta”, conta o agricultor sobre os diferentes ciclos produtivos e a importância de trabalhar sem agrotóxicos esses anos todos.

A propriedade de 5 hectares, após a divisão dos 60 hectares da família, guarda a visão de um cartão postal, com os cultivos sobre o relevo montanhoso de mais de 1 mil metros de altitude, voltados para os vales cobertos pelas águas represadas. Apesar de ser uma pacata cidade paulista, fundada em 1676, Nazaré Paulista teve seu crescimento acentuado com a construção da Represa Atibainha, do Sistema Cantareira, e a Rodovia D. Pedro I, com a chegada de novos trabalhadores e a integração logística a outros municípios.

No bairro do Moinho, o sítio da família situa-se às margens da rodovia, ao mesmo tempo que guarda ares de refúgio ecológico, com as hortaliças crescendo em curvas de nível projetadas pelo proprietário para incorporar matéria orgânica no solo das encostas. Na base dos morros, surgem mudas de árvores nativas, plantadas recentemente para recuperar as nascentes locais e virarem um banco de produção futura.

“Digo que cada propriedade orgânica tem uma cara, como se fosse um RG, com cultivos próprios, fontes de água e a forma de combinar diferentes métodos agrícolas integrados à presença da natureza”, compara o produtor.

Rotina desafiadora

Para distribuir as centenas de hortaliças orgânicas que seguem diariamente rumo às feiras em Atibaia, Guarulhos, Mooca e Tatuapé, além da Feira do Produtor Orgânico da AAO, no Parque da Água Branca, onde vende a maior parte da produção, a rotina exige grande esforço. Pode começar às 4 horas da manhã, com a saída para a feira em São Paulo, ou às 21 horas com a coleta de verduras e temperos frescos para o dia seguinte. A ajuda da esposa Marisa, das duas filhas e de dois funcionários temporários complementa o trabalho, mas pode-se dizer que o produtor concilia sozinho diferentes atividades seu negócio funcionar com sucesso.

“Trabalhar na roça não é igual antigamente, em que bastava colher, hoje tem que fazer o controle da produção, planejar a compra de insumos, fazer a venda nas feiras. E o principal desafio para o pequeno proprietário é a mão de obra, pois se falta um funcionário afeta toda a produção, esses dias perdi vários produtos pois não deu tempo de colher”, conta Gregório.

Ele também ensina que é importante diversificar as fontes compradoras e os itens oferecidos, a exemplo da venda que faz para a merenda escolar em municípios como Bragança, Atibaia e Vargem. Nesse caso, a produção vai para a cooperativa local que participa da chamada pública, pois o volume é maior. Por isso, o preço é mais baixo, o que aumenta a importância de fazer feiras como a do Parque da Água Branca, em que os consumidores reconhecem o valor do alimento sem veneno.

“E tem que ter diversidade de produtos, não adianta levar um caminhão só de tomates e na semana seguinte não ter mais nada”, reforça ele.

No consórcio entre espécies, misturam-se hortaliças e temperos que servem de repelente natural, a exemplo da couve com alecrim ou do tomate com o manjericão, lembrando-se a importância de manter os insetos que se combatem entre si, como a joaninha em relação ao pulgão.

“Aprendo com meu pai todo dia, pois ele sabe de técnicas que não são estudadas em universidades, o que um produtor faz a terra mostra”, expressa a filha Gabriele Martins, que está cursando o segundo ano da Faculdade de Agronomia.

Árvores com agricultura

Gabriele sempre se encantou com o trabalho no campo e decidiu cursar Agronomia para contribuir com o projeto local, trazendo ideias como a produção de cestas orgânicas ou a substituição do eucalipto no alto dos morros por cana, para resgatar a fabricação de cachaça artesanal.


“Estamos construindo um modelo de diversidade de culturas, pois sabemos que a monocultura não é sustentável. A variedade de plantas traz vida e um ambiente favorável em que as espécies se controlam”, explica ela.

Há mais de 30 espécies de hortaliças e temperos, agora acrescidas de 40 espécies de árvores frutíferas que Gregório vem plantando na Área de Preservação Permanente (AAP) da propriedade. Juçara, Pupunha, Bacupari, Uvaia, Jatobá, Copaíba, Jatobá, Jaracatiá... o catálogo de espécies brasileiras introduzidas ali irão compor uma grande agrofloresta em metade da área da propriedade. Por trás do esforço, está a meta de proteção das nascentes e da própria recuperação das funções ecológicas da região.

Foram plantadas 2,5 mil mudas de árvores nativas, fornecidas pela cooperativa local, que também aumentam a fertilidade do solo, minimizam o efeito da degradação da atividade agrícola e restabelecem boa parte das espécies da fauna, com controle maior de pragas e doenças.

“Sempre mantive a Área de Preservação Permanente, o que é obrigatório para certificar os orgânicos, mas não tirava renda da área. Agora, para preservar teremos o retorno financeiro com as nativas, além da poda servir de matéria orgânica, ou seja, de comida para as hortaliças”, explica o produtor.

O sonho é ver a mata se fechar aos poucos, mas ele diz que sua agrofloresta está “mais floresta do que agro”.

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