A Inteligência militar no Império Russo: Doroteia de Lieven – A Mata Hari russa


A bela Doroteia de Lieven, apelidada de a “Sibila diplomática da Europa”, foi uma precursora da Mata Hari, a famosa espia dos tempos da Primeira Guerra Mundial. Ela conseguiu conquistar os corações de três ministros das relações exteriores dos países mais poderosos do século XIX.

Doroteia nasceu em 1785 na família do governador militar de Riga general Khristofor von Benckendorff e era irmã do futuro todo-poderoso chefe da gendarmaria de Nicolau I. Sua mãe era dama-de-honra da esposa do imperador Paulo I e a menina foi educada na corte. Quando cumpriu os 14 anos de idade, ela foi casada com o conde Cristóvão de Lieven, favorito de Paulo I.
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Depois do assassinato de Paulo I, o novo imperador Alexandre I enviou o conde de Lieven com funções diplomáticas para Berlim, onde Doroteia soube ganhar experiência nessa profissão. Em 1812 o conde foi nomeado embaixador russo na Grã-Bretanha, tendo ocupado esse posto até 1834. “Espero que sua esposa lhe dê uma grande ajuda”, declarou profeticamente o tsar.
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Realmente, a condessa criou em Londres um esplêndido salão onde se reuniu todas as celebridades do mundo diplomático. Ela estava permanentemente a par de todas as notícias e mexericos políticos mais importantes. Alexandre I e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, conde Karl Nesselrode, mantinham correspondência com Doroteia de Lieven.

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De forma não oficial, a jovem condessa se tornou numa das figuras centrais da execução da política externa russa no período da Santa Aliança, coalizão criada depois da derrota de Napoleão pela Rússia, Áustria e Prússia. Para obter o acesso aos segredos do chanceler austríaco Metternich, o principal adversário de Alexandre I, Doroteia de Lieven teve com ele uma ligação. Ela foi-lhe propositadamente apresentada em 1818, no Congresso de Viena, pelo ministro russo das Relações Exteriores, Karl Nesselrode.

A relação íntima entre Doroteia e o chanceler durou dez anos e a correspondência entre os dois amantes era controlada por Nesselrode e pelo tsar da Rússia. A condessa relatava ao tsar a duplicidade do chanceler austríaco e as suas tentativas para fazer um acordo com Londres nas costas da Rússia. Tendo tomado conhecimento dessas intenções através de Doroteia de Lieven, Alexandre I decidiu alterar radicalmente a política externa do país e ser o primeiro a fazer um tratado com os ingleses.


Mais tarde, a condessa de Lieven foi chamada a São Petersburgo para uma conversa confidencial
com o imperador. A agente devia terminar a sua relação com Metternich e se aproximar de George Canning, primeiro-ministro de Inglaterra. Entretanto, ela já tinha tido tempo para estabelecer contactos com o rei de Inglaterra. Jorge IV foi mesmo padrinho do seu filho Jorge. Diziam que a criança era muito parecida com ele.

A Rússia e a Inglaterra, tradicionalmente adversários, se tornaram inesperadamente aliados. Doroteia de Lieven convenceu Canning a apoiar a Rússia na guerra de libertação dos gregos contra a Turquia. Daí resultou a famosa batalha naval de Navarino entre os dois países junto à costa do Peloponeso, resultando na derrota do Império Otomano e na liberdade e independência da Grécia. Mas o romance com George Canning foi de curta duração. O premiê britânico faleceu prematuramente em 1828.

Depois de regressar a São Petersburgo, Doroteia de Lieven se sentia muito desconfortável. Ambos os seus filhos haviam falecido, mais tarde morreu também o seu marido, a família real não lhe dispensava atenções. Ela decidiu mudar-se para Paris, onde comprou a antiga casa do ex-ministro das Relações Exteriores de França Talleyrand. Nessa casa ela abriu o seu próprio salão, que se tornou muito famoso. Ele foi frequentado pelo escritor Honoré de Balzac, pelo poeta Théophile Gautier, pelo dramaturgo Alfred de Musset e pelo diplomata e escritor François-René de Chateaubriand.

O salão era mesmo apelidado de “torre de vigia da Europa”. Entre os seus amantes desse período figurava François Guizot, o primeiro-ministro francês. Isso ajudou-a a recolher, nos interesses da Rússia, preciosa informação confidencial acerca das movimentações do governo francês.

Depois da revolução francesa de 1848, as relações entre a Rússia e a França não podiam ser piores. Na véspera da Guerra da Crimeia, Paris queria agir contra a Rússia em aliança com a Inglaterra e a Turquia, planejando envolver nessa guerra a Suécia e a Espanha. Doroteia de Lieven informava a tempo o imperador Nicolau I sobre essas ameaças. Ele negligenciou-as, mas a preciosa informação obtida acerca das divergências entre a Inglaterra e a França permitiu que a delegação russa à Conferência de Paz de Paris de 1857 tenha assinado condições de saída da guerra mais favoráveis para a Rússia.

Pouco depois do fim da Guerra da Crimeia, na primavera de 1857, a espia russa princesa Doroteia de Lieven chegou ao fim da sua vida agitada em Paris.

Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/

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