O brasileiro que está mudando a Microsoft - O curitibano Alex Kipman está por trás das principais inovações da empresa de Bill Gates e recolocando-a no radar do mundo tecnológico
Voando alto: o HoloLens, criado por Kipman, desenhou drone virtualmente e o objeto foi impresso em 3D ( foto: Divulgação) |
Eram centenas de pessoas sentadas em fileiras viradas para três grandes telões do auditório do quartel-general da Microsoft, em Redmond, no Estado de Washington, na quarta feira 21. A plateia fora convidada para conhecer os recursos do Windows 10, próxima versão do sistema operacional da Microsoft. Nenhum dos convidados presentes sabia, no entanto, que um brasileiro iria roubar a cena. E, principalmente, que a estrela da noite não seria o quase ubíquo Windows, o sistema operacional instalado em nove de cada dez computadores do mundo.
Vestido com blazer preto e camisa branca, e com longos cabelos castanhos até os ombros, o curitibano Alex Kipman, 36 anos, mostrou, pela primeira vez, o HoloLens, óculos que foram chamados de “o computador holográfico mais avançado do mundo”. O HoloLens é uma das mais ousadas apostas do indiano Satya Nadella, CEO da Microsoft, para que a companhia fundada por Bill Gates volte a ser relevante no mundo da tecnologia, posição que perdeu para Google e Facebook nas últimas décadas. “Vamos mudar o segmento e convido quem está desenvolvendo para o Glass (óculos conectados do Google) e para o Oculus (óculos de realidade virtual do Facebook) a conhecer e criar aplicativos para nosso produto”, disse Kipman em sua apresentação, ironizando seus dois principais concorrentes, que contam com produto semelhantes.
Graduado em ciência da tecnologia, nos EUA, Kipman está se transformando numa das mentes mais criativas do setor. O brasileiro atualmente chefia um seleto grupo de cientistas que trabalha em um laboratório de acesso restrito no campus da Microsoft. Foi nessas salas secretas que Kipman brilhou pela primeira vez. Ele é o inventor do revolucionário sensor de movimentos que transforma o corpo em um controle de videogames. O produto, lançado em 2010, foi batizado de Kinect e é um dos grandes sucessos da história da Microsoft.
Tanto que, na época, entrou para o livro dos recordes como o dispositivo eletrônico de venda mais rápida da história, com oito milhões de unidades em 60 dias, uma média de 133,3 mil por dia. Não bastasse isso, mesmo passados quatro anos, as rivais japonesas Sony e Nintendo, que disputam com a Microsoft o mercado de games, não conseguiram criar, ainda, um dispositivo que iguale a tecnologia do Kinect. O produto é considerado tão inovador que rendeu a Kipman o título de principal inventor dos Estados Unidos de 2012, concedido pela Intellectual Property Owners Education Foundation. “Alex Kipman é uma mente diferenciada”, diz um comunicado da instituição, enviado à DINHEIRO.
“Sua genialidade é percebida até durante uma simples conversa.” O HoloLens, na visão de Kipman, em uma entrevista à revista americana Wired, fará o Kinect parecer pertencer a um time da segunda divisão do campeonato brasileiro. Os óculos projetam, nas paredes e móveis de um ambiente, imagens holográficas. Quem está usando o aparelho pode interagir com a cena e alterá-la com o movimento das mãos. A empresa promete, em seus vídeos, uma experiência que lembra o filme futurista Minority Report, estrelado por Tom Cruise. “Essa é mais uma quebra de paradigma que nós da Microsoft estamos trazendo ao mercado”, disse Kipman, em sua apresentação.
Filho do diplomata brasileiro Igor Kipman, o novo gênio da Microsoft nasceu em Curitiba, mas estudou em Brasília. Viveu também na Itália, até ser admitido no Rochester Institute of Technology, no Estado de Nova York. Quem o conhece diz que ele é um nerd típico, capaz de passar dias trabalhando em um código de computador, sem se lembrar de voltar para casa. Ao mesmo tempo, cultiva alguns hábitos estranhos para quem atua com tecnologia. Kipman, por exemplo, só lê e-mails uma vez por semana. Mas, do seu jeito, está conseguindo mudar a Microsoft e recolocando-a no radar do mundo tecnológico.
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