"A histΓ³ria se repete, a primeira vez como tragΓ©dia e a segunda como farsa". A frase de Marx, sobre a reinstalaΓ§Γ£o do impΓ©rio na FranΓ§a, foi tomada por geraΓ§Γ΅es seguintes como uma fΓ³rmula que explicaria parte de uma dinΓ’mica geral da histΓ³ria. Sendo a histΓ³ria vivida uma experiΓͺncia assimΓ©trica , portanto hostil Γ simetria das fΓ³rmulas, a funcionalidade da profecia nΓ£o estΓ‘ garantida em todas as sociedades.
Posto tal limite, importa perceber que eventualmente a profecia pode se realizar em algumas sociedades especΓficas. Parece-me inegavelmente o caso do Brasil de hoje. Nossa tragΓ©dia recente Γ© o golpe de 1964, promovido por um bloco civil e militar que por vinte anos usurpou os direitos polΓticos da sociedade, impΓ΄s um modelo de desenvolvimento concentrador de riqueza e poder polΓtico e violou sistematicamente direitos civis atravΓ©s do terrorismo de Estado.
A farsa correspondente a tal tragΓ©dia Γ© o movimento golpista articulado contemporaneamente por alguns setores da sociedade que defendem a derrubada da presidenta da RepΓΊblica. A tragΓ©dia de 1964 e a farsa de 2015 sΓ£o filhas de uma mesma tensΓ£o, que percorre os conflitos da sociedade brasileira desde hΓ‘ muito e que se aprofundou com a entrada das massas populares no cenΓ‘rio polΓtico, principalmente na segunda metade do sΓ©culo XX.
DEMOCRACIA - A tensΓ£o decorre da incapacidade de setores que historicamente detΓ©m o poder econΓ΄mico em aceitar a legitimidade das decisΓ΅es da maioria. Em outros termos, as elites e parte dos setores mΓ©dios brasileiros mantΓ©m uma relaΓ§Γ£o tensa e instrumental com a democracia. O golpe de 1964 Γ© um dos resultados de tal tensΓ£o; jovem ainda, a democracia brasileira tombou e os interesses da maioria foram postergados por vinte anos de ditadura e dezoito anos de governos civis que aceitaram a pauta conservadora de crescer sem distribuir.
Os interesses dos setores mais antidemocrΓ‘ticos da sociedade brasileira sΓ³ foram novamente colocados em xeque com o advento dos governos populares que se seguiram de 2003 atΓ© nossos dias. Incapazes de derrotar o projeto distributivista do PT, dentro dos marcos da democracia, setores minoritΓ‘rios da sociedade brasileira passaram a conspirar francamente contra as decisΓ΅es tomadas pela maioria nas urnas.
Constrangidos pelo vigor da democracia, tais setores nΓ£o advogam, exceto por minΓΊsculos grupos anΓ΄malos, a reediΓ§Γ£o da tragΓ©dia (o golpe militar). Desejam, antes, uma farsa, nova forma do mesmo conteΓΊdo da tragΓ©dia. O roteiro consiste em derrubar a decisΓ£o da maioria golpeando de setores impermeΓ‘veis Γ democracia: parte da imprensa e do JudiciΓ‘rio.
O farsesco estΓ‘ em que a maioria nΓ£o precisa mais ser obtida, mas sim, encenada. Maioria — que em uma democracia como a nossa sΓ³ pode ser aferida atravΓ©s do voto popular em eleiΓ§Γ΅es legΓtimas — encenada atravΓ©s de outros instrumentos. A decisΓ£o de uma suposta maioria (supostamente mais qualificada) substitui e revoga a decisΓ£o da maioria expressa nas eleiΓ§Γ΅es (supostamente menos qualificada).
O resultado: a prΓ³pria democracia estΓ‘ revogada. A farsa se torna golpe, revestido de legalidade, e reinstala na direΓ§Γ£o da RepΓΊblica um tΓtere que se proponha a submeter a naΓ§Γ£o a uma reconcentraΓ§Γ£o de riqueza e Γ dilapidaΓ§Γ£o dos direitos obtidos pelas massas populares durante os governos petistas.
Subestimam tais setores as forΓ§as democrΓ‘ticas da naΓ§Γ£o, a inteligΓͺncia do povo brasileiro e a disposiΓ§Γ£o que temos de defender nossa democracia duramente construΓda. A farsa nΓ£o se farΓ‘ tragΓ©dia, os direitos democrΓ‘ticos triunfarΓ£o e o Brasil seguirΓ‘ o caminho que tem o feito um paΓs cada vez mais livre e menos desigual.
Fonte: http://www.brasil247.com/
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