Republiqueta Cleptocrática do Brasil


Há algum tempo o músico Jards Macalé tornou-se um entusiasta e propagador da campanha para incluir a palavra "amor" no lema da bandeira nacional.

Resgataríamos, assim, o lema positivista em sua plenitude: "O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim".

Inspirado no mestre, lanço aqui minha campanha civilizatória.

Sugiro que mudemos o nome de nossa pátria.

Essas terras já foram chamadas de "República dos Estados Unidos do Brasil", nome pouco criativo e com um quê de vira-latismo.

Passamos, então, para o atual "República Federativa do Brasil", nome insosso e impreciso.

Defendo que nos rebatizemos de "Republiqueta Cleptocrática do Brasil".

Assim como nos falta amor, mestre Macalé, nos faltam verdade e precisão.

Por amor à verdade, deveríamos trocar "República" por "Republiqueta"

Segundo o Houaiss o primeiro termo significa:

"1 - forma de governo em que o Estado se constitui de modo a atender o interesse geral dos cidadãos e 2 - forma de governo na qual o povo é soberano...".

Já "Republiqueta" significa:

"1 - república pequena ou insignificante; 2 - república em que regularmente os direitos dos cidadãos são violados".

Federação é a

"1 - união política e/ou econômica instituída entre estados relativamente autônomos, associados sob um governo central soberano".

Enquanto "Cleptocracia" é o

"regime político-social em que práticas corruptas, especialmente com o dinheiro público, são implicitamente admitidas ou mesmo consagradas".
Vejam se estou ou não com a razão.

Imagine um país no qual o presidente da Câmara dos Deputados supostamente tem alguns milhões de dólares (não declarados e de origem nebulosa) na Suíça. Os quais são usados, entre outras coisas, para pagar lições de tênis em Miami para sua digníssima esposa.

Imagine que entre os 11 sucessores desse presidente, 8 respondem a processos ou foram condenados pela Justiça. Um recebia mesada de doleiro, outro foi acusado por sequestro e cárcere privado, falsidade ideológica e formação de quadrilha, outro gosta de ter pessoas em condições análogas à escravidão...

Dos 513 deputados eleitos em 2014, 39 respondiam a processos criminais.

Um deles, o sr. Paulo Maluf, tem a honra de ser procurado pela Interpol. (if you have any information please contact...)

Imagine um país no qual o presidente do Senado renunciou ao cargo quando surgiram denúncias de que as despesas de um filho seu eram supostamente pagas por um lobista. (Renan ainda responde inquéritos no STF relativos a denúncias de peculato, uso de documento falsos e falsidade ideológica nesse caso).

E imagine que esse camarada é eleito novamente para presidente do Senado e que um dos delatores do processo da Lava Jato o acusa de ter recebido propina de negócios da Petrobras.

Nunca é demais lembrar que esse colosso da moralidade foi líder do governo Collor e ministro da Justiça no governo FHC.

E mais: cerca de 40% dos senadores respondem a ações ou inquéritos judiciais no Supremo Tribunal Federal.

Imagine que um desses senadores - comprovadamente enganado por um de seus funcionários que abusou de sua bondade e inocência - viu seu helicóptero capturado pela Polícia Federal, estando recheado com quase meia tonelada de cocaína.

Imagine um ex-presidente da República cujo governo comprou apoio parlamentar através de mesadinha e mensalão.

E que esse ex-presidente recebe 300 mil reais por palestra. E que a lista dos compradores dessas palestras inclui muitas empreiteiras, muitos bancos, muitas empresas com negócios com o governo, muitas que receberam dinheiro barato do BNDES e umas tantas multinacionais imperialistas, caro Lenine.

Nada ilegal, imoral ou que engorda, certo?

Imagine que os filhos desse ex-presidentes são dois "Ronaldinhos" dos negócios, recebendo injeções de alguns milhões de reais de empresas com negócios com o governo federal. Tudo por merecimento, sem qualquer irregularidade como corroborado pela Justiça, mostrando o quão sério é nosso país.

Triste é saber que um dos Ronaldinhos esteja sendo falsamente acusado por um delator da Lava Jato de ter tido contas da ordem de 2 milhões de reais pagas com dinheiro sujo

Imagine amigo John, apenas imagine.

Agora me digam. É ou não é uma Republiqueta? É ou não é uma Cleptocracia?

E pior, toda vez que aparece algum camarada que faz da moralidade sua bandeira, nos ensina a nossa história que é bom abrir os olhos e segurar as carteiras.

Aproveito o espaço para mandar abraço para Collor, Dirceu, Genoíno e Demóstenes, grandes moralizadores da coisa pública em nosso país, que são a exceção dessa regra.

Desculpe Mestre Macal, mas o lema da bandeira não deveria ser "amor, ordem e progresso".

Na bandeira da Republiqueta Cleptocrática do Brasil deveria estar escrito: "se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão".

Não fica um!

Fonte: http://www.brasilpost.com.br

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