HELENA PETROVNA BLAVATSKY foi uma das figuras mais notΓ‘veis do mundo no ΓΊltimo quartel do sΓ©culo XIX. Ela abalou e desafiou de tal modo as correntes ortodoxas da ReligiΓ£o, da CiΓͺncia, da Filosofia e da Psicologia, que Γ© impossΓvel ficar ignorada. Foi uma verdadeira iconoclasta ao rasgar .e fazer em pedaΓ§os os vΓ©us que encobriam a Realidade. Mas, porque estivesse a maioria presa Γ s exterioridades convencionais, tornou-se o alvo de ataques e injΓΊrias, pela coragem e ousadia de trazer Γ luz do dia aquilo que era blasfΓͺmia revelar. Lenta mas seguramente, os anos se encarregaram de fazer-lhe justiΓ§a.
Maycot 1887
Helena Petrovna Hahn nasceu prematuramente Γ meia-noite de 30 para 31 de julho (12 de agosto pelo calendΓ‘rio russo) de 1831, em Ekaterinoslav, na provΓncia do mesmo nome, ao sul da RΓΊssia. TΓ£o estranhos foram os incidentes ocorridos na hora do seu nascimento e por ocasiΓ£o do seu batismo, que os serviΓ§ais da famΓlia lhe predisseram uma existΓͺncia cheia de tribulaçáes.
Helena foi uma crianΓ§a voluntariosa, oriunda de uma linhagem tradicional de homens e mulheres influentes e poderosos. A histΓ³ria dos seus antepassados Γ© a histΓ³ria mesma da RΓΊssia. SΓ©culos atrΓ‘s, os nΓ΄mades eslavos erravam atravΓ©s da Europa central e oriental. Tinham formas de governo prΓ³prias; mas, quando se estabeleceram em Novgorod, fracionaram-se em feudos, que se desavieram entre si, nΓ£o sendo possΓvel chegarem a uma conciliação, Chamaram em seu auxΓlio Rurik (862 A.D.), chefe de uma das tribos errantes de βRussβ, homens do Norte ou escandinavos, que andavam Γ cata de mercado e procurando estender o seu domΓnio. Rurik veio e organizou em Novgorod o primeiro governo civil, que se constituiu em um centro opulento de comΓ©rcio com o Oriente e o Ocidente. Foi ele o primeiro soberano e reinou pelo espaΓ§o de quinze anos. Durante sua vida, o filho Igor e o sobrinho Oleg consolidaram-lhe o domΓnio no Oeste e no Sul. Kiev tornou-se um grande Principado, e aquele que o governava era virtualmente o soberano da RΓΊssia.
VΓͺ-se, pois, que a famΓlia de Helena pertencia Γ classe superior, na RΓΊssia, com tradição e dignidade a preservar, sendo conhecida em toda a Europa. Helena era uma rebelde, e desde a infΓ’ncia sempre manifestou desprezo pelas convençáes, o que nΓ£o a impedia de compreender que as suas açáes nΓ£o deviam molestar a famΓlia, nem lhe ferir a honra. Seu pai, o CapitΓ£o Peter Hahn, descendia de velha estirpe dos Cruzados de Mecklemburg, os Rottenstern Hahn. Em virtude de, aos onze anos de idade, haver perdido a mΓ£e, mulher inteligente e devotada Γ literatura, Helena passou a adolescΓͺncia em companhia de seus avΓ³s, os Fadeef, em um antigo e vasto solar de Saratov, que abrigava, muitos membros da famΓlia e grande nΓΊmero de criados e servidores, por ser o seu avΓ΄ Fadeef governador da provΓncia de Saratov.
Artista: Reginald Machell
Em 1848, com a idade de 17 anos, Helena contraiu matrimΓ΄nio com o General Nicephoro V. Blavatsky, governador da provΓncia de Erivan, que era um homem jΓ‘ entrado em anos. Existem muitas versΓ΅es sobre a razΓ£o desse casamento; que nΓ£o foi do seu agrado, ela o demonstrou desde o primeiro momento. ApΓ³s trΓͺs meses, abandonou o marido e fugiu para a casa da famΓlia, que a encaminhou ao pai β Receando ser obrigada a voltar para o General Blavatsky, tornou a fugir, no caminho; e durante vΓ‘rios anos correu o mundo em viagens -cheias de aventuras. O pai conseguiu comunicar-se com ela e fez-lhe remessa de dinheiro. Ao que parece, manteve-se ela ausente da RΓΊssia o tempo suficiente para poder legalizar a sua separação do marido.
Em 1851 Helena, agora Senhora Blavatsky ou H. P. B., teve o seu primeiro encontro fΓsico com o
Em 1873, H. P. Blavatsky viajou para os Estados Unidos da AmΓ©rica, a fim de trabalhar na missΓ£o para a qual fora preparada. A alguΓ©m de menos coragem a tarefa havia de parecer impossΓvel. Mas ela, uma russa desconhecida, irrompeu no movimento espiritualista, que entΓ£o empolgava tΓ£o pro fundamente a AmΓ©rica e, em menor escala, muitos outros paΓses. Os espΓritos cientΓficos ansiavam por descobrir o significado dos estranhos fenΓ΄menos, e se defrontavam com dificuldades para abrir caminho em meio Γ s numerosas fraudes e mistificaçáes. De duas maneiras tentou H. P. B. explicΓ‘-los: 1.β pela demonstração prΓ‘tica de seus prΓ³prios poderes; 2.β afirmando que havia uma ciΓͺncia antiqΓΌΓssima das mais profundas leis da vida, estudada e preservada por aqueles que podiam usΓ‘-la com seguranΓ§a e no sentido do bem, seres que em suas mais altas categorias recebiam a denominação de βMestresβ, embora outros tΓtulos tambΓ©m lhes fossem conferidos, como os de Adeptos, Chohans, IrmΓ£os Mais Velhos, Hierarquia Oculta, etc.
Quando H. P. B. foi βenviadaβ aos Estados Unidos, um de seus objetivos mais importantes consistiu em fundar uma associação, que foi formada sob a denominação de THE THEOSOPHICAL SOCIETY (Sociedade TeosΓ³fica), βpara pesquisas e difundir o conhecimento das leis que governam o Universoβ2. A Sociedade apelou para a βfraternal cooperação de todos os que pudessem compreender o seu campo de ação e simpatizassem com os objetivos que ditaram a sua organizaçãoβ3. Essa βfraterna cooperaçãoβ tornou-se a primeira das TrΓͺs Metas do trabalho da Sociedade, as quais foram durante muitos anos enunciadas nestes termos:
Formar um núcleo de Fraternidade Universal na Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor.
Fomentar o estudo comparativo das ReligiΓ΅es, Filosofias e CiΓͺncias.
Investigar as leis inexplicΓ‘veis da Natureza e os poderes latentes do homem.
Foto tirada em Londres em outubro de 1888.
Acima estΓ£o Vera Vladimirovna Jelihovsky (sobrinha de Blavatsky) com seu marido Charles Johnston e Coronel Olcott. E abaixo estΓ£o H.P. Blavatsky e sua irmΓ£ Vera Zhelihovsky.
Foi recomendado Γ Senhora Blavatsky que persuadisse o Coronel Henry Steel Olcott a cooperar com ela
Ambos foram para a Γndia em 1879, e ali construΓram os primeiros e sΓ³lidos alicerces do seu trabalho. A Sociedade expandiu-se rapidamente de paΓs em paΓs; sua afirmação de serviΓ§o prΓ³-humanidade, a amplitude de seu programa, a clareza e a lΓ³gica de sua filosofia e a inspiração de sua orientação espiritual ecoaram de modo convincente em muitos homens e mulheres que lhe deram o mais firme apoio. H. P. B. foi investida pelos Mestres com a responsabilidade de apresentar ao mundo a Doutrina Secreta ou Teosofia: ela era a instrutora por excelΓͺncia; ao Coronel Olcott foi delegada a incumbΓͺncia de organizar a Sociedade, o que ele fez com notΓ‘vel eficiΓͺncia. Como era natural, esses dois pioneiros encontraram a oposição e a incompreensΓ£o de muita gente; especialmente H. P. B. Mas ela estava preparada para o sacrifΓcio. Como escreveu no PrefΓ‘cio de A DOUTRINA SECRETA: βEstΓ‘ acostumada Γ s injΓΊrias, e em contato diΓ‘rio com a calΓΊnia; e encara a maledicΓͺncia com um sorriso de silencioso desdΓ©m.β
A fase mais brilhante e produtiva de H. P. B. foi talvez a que se passou na Inglaterra entre os anos de 1887 e 1891. Os efeitos do injusto RelatΓ³rio da βSociedade de Investigaçáes PsΓquicasβ (1885) acerca dos fenΓ΄menos que ela produzia, assim como os dos ataques desfechados pelos missionΓ‘rios cristΓ£os da Γndia, jΓ‘ haviam em parte desaparecido. Ao seu incessante labor de escrever, editar e atender Γ correspondΓͺncia, somava-se a tarefa de formar e instruir discΓpulos capazes de dar prosseguimento Γ sua obra. Para este fim, organizou, com a aprovação oficial do Presidente (Coronel Olcott), a Seção EsotΓ©rica da Sociedade Teos6fica. Em 1890 contava-se em mais de um milhar o nΓΊmero de membros que se achavam sob a sua direção em muitos paΓses.
A DOUTRINA SECRETA se define por seu prΓ³prio tΓtulo. ExpΓ΅e βnΓ£o a Doutrina Secreta em sua totalidade, mas um nΓΊmero selecionado de fragmentos dos seus princΓpios fundamentaisβ.
1) Mostra: que Γ© possΓvel obter uma percepção das verdades universais, mediante o estudo comparativo da Cosmogonia dos antigos;
2) proporciona o fio que conduz à decifração da verdadeira história das raças humanas;
3) levanta o vΓ©u da alegoria e do simbolismo para revelar a beleza da Verdade;
4) apresenta ao intelecto Γ‘vido, Γ intuição e Γ percepção espiritual os βsegredosβ cientΓficos do Universo, para sua compreensΓ£o. Segredos que continuarΓ£o como tais enquanto nΓ£o forem entendidos.
H. P. B. faleceu a 8 de maio de 1891, deixando à posteridade o grande legado de alguns pensamentos dos mais sublimes que o mundo jÑ conheceu. Ela abriu as portas, hÑ tanto tempo cerradas, dos Mistérios; revelou, uma vez mais, a verdade sobre o Homem e a Natureza; deu testemunho da presença, na Terra, da Hierarquia Oculta que vela e guia o mundo. Ela é reverenciada por muitos milhares de pessoas, porque foi e é um farol que ilumina o caminho para as alturas a que todos devem ascender.
Josephine Ransom
Adyar, 1938
Notas:
(1) Veja-se o PrefÑcio de H. P. B. à edição de 1888.
(2) CapΓtulo XI dos Estatutos originais.
(3) PreΓ’mbulo original.
Fonte: A Doutrina Secreta, Ed. Pensamento, SΓ£o Paulo 1973. Volume I