Ribamar Fonseca
No ΓΊltimo dia 15 deste mΓͺs cerca de dois milhΓ΅es de pessoas saΓram Γ s ruas em todo o paΓs, segundo estimativa da Policia Militar, para um protesto confuso contra o governo. Enquanto alguns gritavam "fora Dilma", acenando com o impeachment, outros pediam o "fim da corrupΓ§Γ£o", ao mesmo tempo em que outro tanto exigia "intervenΓ§Γ£o militar jΓ‘". Com tanta gente pulando e vestindo a camisa verde e amarela, a primeira impressΓ£o, sugerida pela transmissΓ£o ao vivo das emissoras de televisΓ£o, era de que a multidΓ£o estava se dirigindo ao estΓ‘dio de futebol para assistir a um jogo da seleΓ§Γ£o brasileira. Na verdade, porΓ©m, era um protesto contra tudo e contra todos de uma pequena parcela da populaΓ§Γ£o (hoje o Brasil tem 200 milhΓ΅es de habitantes), provavelmente de eleitores que nΓ£o votaram em Dilma.
Constatou-se que aquelas pessoas apenas atenderam a uma convocaΓ§Γ£o atravΓ©s das redes sociais, como se fora para um passeio no domingo, sem saber exatamente contra o que protestavam ou o que estavam reivindicando, tal a profusΓ£o de cartazes com frases de todo tipo. Os que pediam o impeachment, por exemplo, nΓ£o tinham a menor ideia de como funciona o mecanismo constitucional destinado a destituir um presidente legalmente eleito e, muito menos, as suas consequΓͺncias para o paΓs. Eles nΓ£o sabiam que nΓ£o basta querer, nΓ£o basta a paixΓ£o, nΓ£o basta o Γ³dio. Γ indispensΓ‘vel a existΓͺncia de motivo legal e a presidenta Dilma Rousseff nΓ£o cometeu nenhum crime que justificasse o impeachment, o que Γ© reconhecido por constitucionalistas e, inclusive, pelos seus adversΓ‘rios.
Se nΓ£o fosse o apelo da Rede Globo e a falta de conhecimento polΓtico de parte dos brasileiros sobre a prΓ³pria historia do paΓs, Seria uma manifestaΓ§Γ£o mais interessante.Aqueles que exigiam uma intervenΓ§Γ£o militar provavelmente tem menos de 30 anos e nΓ£o sabem o que Γ© uma ditadura, nΓ£o viveram os anos de chumbo. SΓ£o tΓ£o alienados que nΓ£o atentaram para o fato de que sΓ³ estavam na rua, protestando, porque vivemos numa democracia. E vivemos numa democracia porque alguns brasileiros de coragem, como a presidenta Dilma Rousseff, foram Γ luta, com o risco da prΓ³pria vida, para restaurar as liberdades e as garantias constitucionais em nosso paΓs. Enquanto ela padecia numa prisΓ£o, justamente por lutar pela democracia, AΓ©cio riquinho passeava nos Estados Unidos e o tucano-mor FHC desfilava em seu Mercedes azul pelas ruas de Santiago do Chile, para onde fugiu com medo dos militares. Se houvesse novamente uma intervenΓ§Γ£o militar e, como consequΓͺncia, uma ditadura essas mesmas pessoas nΓ£o poderiam mais sair Γ s ruas para protestar contra nada. SerΓ‘ que eles nΓ£o sabem disso?
Os que pediram o "fim da corrupΓ§Γ£o" parecem estar de tal modo hipnotizados pelo noticiΓ‘rio tendencioso da mΓdia oposicionista que nΓ£o se deram conta de que o governo jΓ‘ vem combatendo a corrupΓ§Γ£o atravΓ©s da PolΓcia Federal, em conjunto com o MinistΓ©rio PΓΊblico e o JudiciΓ‘rio. CorrupΓ§Γ£o nΓ£o se acaba por decreto, do tipo "a partir desta data fica extinta a corrupΓ§Γ£o no paΓs". A corrupΓ§Γ£o, que corrΓ³i a humanidade em toda parte desde que o homem existe na face da Terra, se combate Γ© no dia-a-dia, todos os dias, com medidas preventivas e punitivas. AtravΓ©s de projeto de lei enviado ao Congresso Nacional o governo estΓ‘ propondo novos mecanismos e aperfeiΓ§oando outros para fechar o cerco aos corruptos. O que precisa ser feito estΓ‘ sendo feito, atravΓ©s da OperaΓ§Γ£o Lava-Jato e de outras aΓ§Γ΅es em andamento em outros setores de atividades. Afinal, nΓ£o apenas os que saΓram Γ s ruas, mas todos os brasileiros querem o fim da corrupΓ§Γ£o.
O fato, porΓ©m, Γ© que embora todos os brasileiros aprovem o combate Γ corrupΓ§Γ£o, infelizmente a OperaΓ§Γ£o Lava-Jato, que atua para desvendar e desmontar o esquema de corrupΓ§Γ£o na PetrobrΓ‘s β e que a mΓdia comprometida superdimensionou para fragilizar o governo e a prΓ³pria estatal β estΓ‘ sendo conduzida partidariamente, ao mesmo tempo em que atropela o estado de direito, o que produz abalos em sua confiabilidade. Prova disso Γ© que as empresas que estΓ£o sendo investigadas fizeram doaΓ§Γ΅es, nas ΓΊltimas eleiΓ§Γ΅es, a todos os partidos, mas apenas foram consideradas propinas as doaΓ§Γ΅es feitas ao PT. As penas tucanas sΓ£o visΓveis em investigadores, procuradores e atΓ© em magistrados em todos os nΓveis, o que compromete a isenΓ§Γ£o das investigaΓ§Γ΅es. O noticiΓ‘rio tendencioso da mΓdia comprometida, empenhada numa sistemΓ‘tica campanha contra o governo, conseguiu fazer a cabeΓ§a de expressiva parcela da populaΓ§Γ£o, incluindo de profissionais cujas atividades exigem comportamento imparcial. A propΓ³sito, o jornalista e escritor Fernando Moraes declarou: "A imprensa brasileira Γ© sem vergonha e partidΓ‘ria". Mas tem gente que ainda acredita nela.
Sobre o Autor
Ribamar Fonseca
Jornalista, membro da Academia Paraense de Jornalismo e da Academia Paraense de Letras; tem 16 livros publicados
Fonte: http://www.brasil247.com/